25 de agosto de 2014

Amsterdam

Estranho parar pra pensar que nunca parei pra escrever verdadeiramente sobre a cidade que da nome ao blog... E não só da nome ao blog, como deu vida a ele. Uma parte de mim vai pertencer a Amsterdam pra todo o sempre e chega a ser difícil explicar o por que. 
Amsterdam tem sua fama, tem um nome, tem atrativos que piscam em neon vermelho pra todos os turistas. Mas não é dessa Amsterdam que vou falar... Até por que essa não era a minha Amsterdam. 
A minha Amsterdam era meu cantinho de paz. Era sobre rodas, era verde e tinha um dos céus mais lindos que já vi nessa vida. 


Amsterdam me encantou nos primeiros minutos. Mesmo com o visual ainda meio cinza e com resquícios da neve que havia assolado o país nos meses anteriores. A paisagem era simplesmente de tirar o folego. Pra alguém que morava em São Paulo, terra de prédios, cinza, fios, fumaça, carros, gente, correria, superlotação, pressa, prédios, grafites, carros, trânsito... Amsterdam era uma brisa de ar fresco. De um ar fresco de um jeito que eu nunca havia provado. 


Eu cresci em cidade do interior, e sempre gostei da vibe "cozy" que existe nesses lugares. Muita gente não gosta. Prefere o anonimato da cidade grande. E o que sempre me encantou demais em Amsterdam é que ela é exatamente o balanço entre esses dois lados. É uma capital com alma de cidade de interior. 
Geograficamente Amsterdam é muito pequena. Todos os bairros são acessíveis de bike a partir do centro. Alguns vão demorar 5 minutos, outros meia hora... Mas mesmo assim é super fácil. Existem muitos parques, pracinhas, mercadinhos e lojinhas de bairro... Centrinhos comerciais com tudo aquilo que você precisa ali há 5 minutinhos de casa. Mas também tem aeroporto, estação de trem internacional, balada, bar, lojas dos mais diversos tipos onde é possível encontrar de TUDO. 
Tem festival de música pra multidões, e cinema ao ar livre pra 200 pessoas na beira do lago. Existe espaço pra todos os tipos de pessoas serem quem elas bem entenderem ser. Mas você ainda conhece seus vizinhos pelo nome da bom dia/boa tarde/boa noite pra todos. 


Meu lugar favorito em Amsterdam era o Vondelpark. Maior e principal parque da cidade. Durante o verão ele é simplesmente mágico. O verão em Amsterdam é mágico. E o parque é o lugar que concentra isso. Todos os tipos de pessoa vão pra lá pra jogar bola, fazer churrasco, beber, fazer um som, assistir a um show, fazer um piquenique, tomar sol de biquíni e protetor solar, ou só curtir uma ressaca de boa. 
Eu tinha 3 lugares especiais: um próximo a um lago, onde ia e ficava sentada, apenas observando a paisagem estonteante. Outro próximo a entrada, onde sempre fazíamos piqueniques e tomávamos nossas cervejas. E o último eu gostava de ir nos dias mais ou menos, onde as pessoas levavam os cachorros pra brincar. Eu sentava lá e ficava observando os cachorros correndo de um lado pro outro atrás de bolas ou pessoas e aquilo somehow me animava. 
O parque era o caminho principal para qualquer coisa que quisesse fazer em Amsterdam. Era um trajeto de bike que eu poderia quase fazer de olhos fechados. Quantas noites voltando pra casa eu não ficava simplesmente olhando ao redor enquanto pedalava e me perguntava como podia um lugar fazer com que eu me sentisse tão bem. 


Amsterdam era um lugar engraçado, sendo modesta... É uma cidade em que puteiros dividem calçada com creches, que ficam na mesma rua da igreja em que o novo rei tomou posse e que tem uma escultura no formato de peitos bem na frente de uma das entradas. 
Você vê peitos, pintos, maconha, e outras coisas do gênero penduradas em todos os lugares, tudo é muito natural e quase não existe tabu pra nada. Ao mesmo tempo em que se tem uma população modestamente conservadora e bem menos sexual que nós. Você pode passear pelo red light district, principal rua de puteiros, conhecer alguém e trocar idéia apenas na amizade. Você quase nunca vai ver desrespeito nos bares e baladas, mas você sempre vai ver gente muito bêbada. 


Amsterdam tem espaço pra todo mundo. No matter qual a sua galera, o que você gosta de fazer ou com quem você quer conviver. Você vai encontrar um lugar pra pertencer, pra chamar de seu e existir sem pressão. Onde todos podem encontrar lugares pra pertencer e chamarem de seu. É onde o congestionamento é de bikes, o chão é de paralelepípedos, e as casas são estreitas e compridas. É ter barcos ancorados na porta de casa, bicicletas acorrentadas a qualquer coisa que não tenha como sair do lugar, e ter chuva e vento como elementos constantes. É celebrar toda e qualquer aparição do sol com picnics ao ar livre. 
De todas as coisas que sinto falta do meu ano laranja, Amsterdam é a principal. Sim, eu viajei. Sim, eu amava minha família como se fosse de sangue. Sim, a Holanda como um todo era maravilhosa. Mas nada, nem lugar nenhum me faz sentir como Amsterdam fazia.